Por Neuma Dantas

De espírito altruísta, Osvaldo Gomes de Carvalho, conhecido na região como Relance, foi um dos homens mais inteligentes que viveu e muito produziu em Mundo Novo. Dinâmico, ele criou um partido político, atuou como vereador por três mandatos, fundou um clube social e se aposentou dignamente, como Auditor Fiscal da Secretaria Estadual da Fazenda. Relance deixou para os mundo-novenses um exemplo de superação, sobretudo de preconceitos.

Filho de Egídio Barbosa de Souza e Enedina Gomes de Carvalho, ele nasceu a 4 de fevereiro de 1924. Teve 19 irmãos. Só estudou o curso primário, talvez porque, de família humilde, tenha necessitado trabalhar desde criança. Entretanto, isso não foi impedimento para Relance, mais tarde, dominar as platéias com seus discursos inflamados, os quais valorizavam a educação, a boa política e a retidão de caráter, cujo exemplo maior, era o próprio autor.

Iniciou-se no serviço público como funcionário da Prefeitura Municipal na gestão de Arthur Jacobina (1951/1954). Cumpriu seu primeiro mandato como vereador no governo de Osvaldo Paulino Vitória, o popular Vadinho, de 1954 a 1958.  Nessa legislatura, destaca-se seu projeto que solicitava a doação de vasto terreno na praça Senador Cohim, pela Prefeitura, para construção da sede própria da Agência do Banco do Brasil. Também participou da Câmara Municipal na gestão de Carlos Barreto de Araújo (1959/1962).

O terceiro mandato desse brilhante personagem, no segundo governo de Vadinho, (1963 a 1967) foi interrompido em virtude das conseqüências políticas oriundas do golpe militar de 1964. Foi sempre eleito pelo (PSD) Partido Social Democrata, tendo também fundado, na cidade, o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro).

Como político, Relance defendia a bandeira dos cidadãos mais fracos, alardeando seu grito por aqueles que tinham seus direitos aviltados. Justamente nesse último mandato, o vereador foi reconhecido como aquele que preenchia as melhores qualidades para a candidatura à Prefeitura; as divergências o impediram. Sob o rótulo de “comunista” ele foi perseguido e caçado sob ameaça de prisão, sendo pressionado a renunciar sua missão. Afinal, aquele “negrinho ousado” teimava em fazer oposição, em ajudar a pobreza, e superava os donos do poder na oratória e nas atitudes; por isso um campeão de votos.

Já como “guarda fiscal” da Coletoria Estadual, hoje Secretaria da Fazenda, o destemido vereador foi transferido de Mundo Novo“a pedidos”, inicialmente para Ruy Barbosa, depois para Ipirá e Jacobina. Motivo: sua insistente atuação política. Como o feito não lograva êxito, Relance foi afastado da política mundonovense quando teve que trabalhar em Vitória de Conquista nos anos 70. Aposentou-se em Feira de Santana na década de 1990.

Osvaldo Gomes de Carvalho tinha intensa luz própria, por isso representa um cometa que atravessou nosso céu deixando um rastro de altivez e brilho intelectual dotado, pois, de personalidade solidária e participativa.  Entre seus feitos está a fundação da Sociedade dos Artistas mundonovense, inaugurada em 13 de maio de 1948.

A idéia de criar uma outra opção de entretenimento social demonstrava sua característica de homem de consenso. Considerando-se que havia, nesse período, duas correntes sócio-políticas que dominavam Mundo Novo: PSD versus UDN e Lira Mundonovense versus Euterpe, uma terceira alternativa transformou o cenário local. Além de abrir espaço para o segmento popular, alijado que era pelas “elites”, o Clube dos Artistas significou um equilíbrio das forças sociais. Ou seja, o hábil político conseguia, aos poucos, dirimir as divergências entre os dois clubes mais fortes.

Relance, simbolicamente, continuava até então como presidente de honra do clube. Dessa posição é que fez, a pedido do professor Vanderlan Sampaio de Araújo, acompanhado dos demais membros da diretoria, a doação do terreno do clube, sob ressalva de apenas ser usado para fins benéficos à população. O espaço será sede do Centro de Arte, Cultura e Mercado de Artesanato Mundonovense.

Nosso conterrâneo casou-se com D.Lourdes Dourado de Carvalho em maio de 1950, não tiveram filhos biológicos. Foi um autodidata em todos os sentidos. Era músico amador, cantava, tocava banjo e violão; um seresteiro de primeira grandeza. Ele nos deixou em 4 de fevereiro de 2008, quando completou 84 anos. Pois é, preferiu comemorar com São Pedro, certamente cantando “Quem parte leva saudades…”. Nós sim, ficamos “chorando de dor”, mas orgulhosos de conviver com um amigo tão genial.

 

Neuma Dantas

Neuma Dantas é formada em Letras e Comunicação Social – Jornalismo. Mestre em Comunicação e Política – UFBA. É fotógrafa e atuou como produtora musical.