Por Neuma Dantas:

Os expoentes de sambas populares cantam aos quatro cantos do município de Mundo Novo, primeiro porque gostam, depois, batucam e sambam incentivando a juventude a manter a tradição da Chula, do Terno de Reis, do Samba de Roda e das cantorias religiosas em louvor aos santos. Tentam conservar um forte traço da cultura mundo-novense, mas mesmo com a riqueza criativa de seu canto, infelizmente, o desinteresse domina a cena popular.
No inicio, eram dois grupos de samba: o de Mineiro e o de Modesto do Cobé. O primeiro, batizado como Aureliano Miranda, hoje aos 75 anos e morador do Sapé, tem boas lembranças do tempo que sambava com os inúmeros companheiros, a maioria hoje “estudando geologia nos campos santos”, como diria nosso mestre Machado de Assis. Mineiro começou cantando para São Cosme e São Damião no toque do pandeiro. Também participava do Reis de Janeiro ou Terno de Reis, “abra a porta senhor que o Santo Reis chegou”.  O cantador recorda que “Seu Satilo” comandava as apresentações do bumba-meu-boi e da poldinha, “ele mesmo preparava as roupas, os bichos, e saia sambando pela cidade”, relata o festejo que era acompanhado da sanfona e pandeiro.
O outro grupo nasceu no Cobé, distrito de Mundo Novo. De acordo com Bel, como é conhecido Geraldo da Silva Santos, 73 anos, os sambadores de roda, no tempo de sua infância, eram Cipriano e Virgílio. Depois veio seu pai, Modesto, a mãe tocava a viola e os irmãos acompanhavam o Reis e o samba de chula. Aliás, como fazem até hoje.
Para Bel, os sambas populares, a chula, o samba de roda, têm importância na medida em que são a tradição, a raiz musical do nosso povo. Infelizmente, segundo o artista, não há interesse da juventude pela arte. “Vai parar. Estou numa idade avançada e não vejo quem vai segurar a peteca”, lastima Bel que é compositor e repentista. Já compôs mais de 200 músicas, gravou 3 CD’s e 01 DVD com Zé Beté e Silvano, seus companheiros atuais.
José Ramos da Costa é o Zé Beté, 53 anos, discípulo de Bel que o acompanha nas apresentações em Mundo Novo, nas cidades vizinhas, em Salvador, seja em programas de rádio ou nos palcos para as platéias que apreciam os cantadores. Zé Beté também sente o desinteresse dos jovens em continuar com a tradição popular, porém é mais otimista, afirmando que “o samba não pode parar”.
Tanto Bel como Zé Beté concordam que o maior compositor de chula da região é o companheiro Silvano Pereira, 53 anos. O trio participa de encontros do gênero no estado da Bahia; a dupla Zé Beté e Silvano, considerada a nova geração, já gravou 14 discos e compuseram mais de 500 músicas.
Entre os sambadores do passado estão Jorge e Dé Pedreira, bons no passo. Atualmente em Mundo Novo, contamos com Bel e seus talentosos seguidores Silvano e Zé Beté que têm o samba como sua “cachaça”. Sentem-se imensamente satisfeitos em tocar, cantar e dançar, mas “queremos mais gente para não deixar o samba de Mundo Novo morrer”, convidam. Você gosta de sambar? Então, aproxime-se, eles precisam de mais companheiros para responder o canto. Seja bem vindo!

Quem quiser adquirir CD dos sambistas de chula de Mundo Novo pode ligar para (74) 9914-0500 (Bel).

Saiba mais sobre músicas de tradição oral no Brasil:

Terno de Reis – “O grupo sai de casa em casa anunciando o reisado. O dono deve abrir a porta qualquer que seja a hora. Os cantadores tocam o batuque e cantam, louvando o dono da casa antes de ir embora. As músicas são cantadas por duas ou três duplas”(Bel e Zé Beté).

Samba de Chula – “É o quebra-cabeça. Vai juntando a letra e depois arruma a melodia e os versos. As estrofes são de quatro a cinco versos. Pode-se também improvisar a chula como repente. Acompanham o cavaquinho, pandeiro, prato, cuia, palmas e o piega (repisado). Os temas passam pelos grandes feitos e seus heróis, fatos políticos nacionais e internacionais, as mulheres, acontecimentos da comunidade etc” (Bel e Zé Beté).

Chula é uma dança e gênero musical de tradição oral. O ritmo é parte da cultura afro-brasileira, introduzido no Brasil por africanos Bantos no século XVI. Nas festas populares a dança é bastante apreciada, seus passos são curtos e movimentos cíclicos. É uma vertente do samba de roda: da língua kibundo (Angola) veio do termo “semba” declinando para samba.
Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Chula

A chula cantada é praticada mais no Nordeste, acompanhada de violão, nada tendo dos movimentos da sua irmã do Sul.  A forma cantada vem dos grupos de cantadores de Natal e principalmente da folia de Reis. O samba de chula samba de chula é também conhecido como samba de viola.
Fonte:http://www.abrasoffa.org.br/folclore/danfesfol/chula.htm

Reisado são grupos devidamente paramentados com muitos enfeites, roupas coloridas, fitas, chapelões e coroas ornadas com espelhinhos, para refletirem, dizem, possíveis maus-olhados. Eles percorrem as ruas e propriedades rurais, da época natalina até o dia de Reis, pedindo prendas e doações, louvando os proprietários das casas, para quem dançam e cantam, representando, às vezes, pequenos autos relativos aos Reis Magos.
O reisado é composto de músicos tocando sanfonas, harmônicas ou consertinas (foles), pandeiros, zabumbas ou outros instrumentos de percussão, e de dançarinos que executam uma coreografia cheia de saltos, negaças e paradas.
O reisado foi introduzido no Brasil via Portugal, onde a tradição ainda é conservada nas pequenas aldeia.
Fonte:http://www.abrasoffa.org.br/folclore/danfesfol/reisado.htm

Samba de roda é uma variante musical mais primitiva do samba, originário do estado brasileiro da Bahia, provavelmente no século XIX. É um estilo musical tradicional afro-brasileiro, associado a uma dança que por sua vez está associada à capoeira. É tocado por um conjunto de pandeiro, atabaque, berimbau, viola e chocalho, acompanhado por canto e palmas. http://pt.wikipedia.org/wiki/Samba_de_roda

O samba do roda do Recôncavo baiano foi registrado como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Iphan em 2004 e proclamado Obra-Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade pela Unesco em 2005. www.pixelindoor.com.br/sambaderoda/– 4k

A manifestação está dividida em dois grupos característicos: o samba chula e samba corrido. No primeiro, os participantes não sambam enquanto os cantores gritam a chula – uma forma de poesia. A dança só tem início após a declamação, quando uma pessoa por vez samba no meio da roda ao som dos instrumentos e de palmas. Já no samba corrido, todos sambam enquanto dois solistas e o coral se alternam no canto.
O samba de roda está ligado ao culto aos orixás e caboclos, à capoeira e à comida de azeite. A cultura portuguesa está presente na manifestação cultural por meio da viola, do pandeiro e da língua utilizada nas canções.
http://www.brasiloeste.com.br/noticia/1202/samba-de-roda-reconcavo-bahiano

 

Neuma Dantas

Neuma Dantas é formada em Letras e Comunicação Social – Jornalismo. Mestre em Comunicação e Política – UFBA. É fotógrafa e atuou como produtora musical.