Por Lucas Parente,
A capacidade criativa (e destrutiva) da doentia mente humana parece sempre capaz de me surpreender. Recentemente, certa reportagem sobre um canhão utilizado na Guerra do Paraguai me fez refletir mais uma vez sobre a loucura que acomete a humanidade desde tempos imemoriais. Loucura “de todos os gêneros”, mas da qual a guerra é a expressão maior.
Muitos, sobretudo os militaristas, diriam que o único louco aqui sou eu… que a guerra é por vezes necessária, outras vezes justificável e, por fim, pode ser inevitável. Na minha modesta opinião, a guerra é sempre repudiável. E não vejo melhor maneira de definir a situação em que seres humanos (evoluídos e racionais!) tentam resolver os seus problemas matando-se e destruindo-se mutuamente.
Além disso, prefiro os loucos como Gandhi, com a sua pacífica Sathyagraha, decisiva para independência da Índia, a loucos como Truman, presidente americano que ordenou o lançamento das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki com o “nobre objetivo” de por fim à Segunda Guerra mundial, dando uma boa lição aos recalcitrantes japoneses e obtendo a sua imediata rendição.
Mas, voltando ao canhão, trata-se de uma arma paraguaia trazida para o Brasil como troféu após o final da Guerra do Paraguai. O gigantesco obuseiro de 12 toneladas recebeu o sugestivo nome de “El Cristiano”, ou seja, “O Cristão”, em bom português, porque na sua fundição foi utilizada parte dos sinos das igrejas do Paraguai.
Dar o nome de cristão para uma arma de guerra seria até engraçado, se fosse apenas uma tirada de humor negro. Abro aqui um parêntese para dizer que considero o humor negro uma das mais genuínas manifestações humanas, enquanto verdadeira catarse do nefasto espírito que habita o homo sapiens. Fecho o parêntese. Mas não é piada. O canhão foi mesmo batizado como “O Cristão”, algo que faria o próprio Cristo revirar-se de indignação na sua cova, caso estivesse nela.
Ora, sendo a guerra a antinomia perfeita da verdadeira moral cristã (…amai-vos uns aos outros…), viria muito mais a calhar a alcunha de “O Herege” para qualquer um que retirasse sinos de igrejas para com eles fabricar armas de guerra… Mas, pensando melhor, não é de hoje que o homem confundiu tudo em relação a Cristo e à própria lição de harmonia das religiões em geral, conforme comprovam os exemplos das Cruzadas (também chamadas de guerra santa), das Teorias sobre a Guerra Justa, encampadas por religiosos (mais do que isso, por santos como Agostinho e Tomás de Aquino) e a deturpação do termo jihad.
Penso que a tentativa de justificação moral e até religiosa para a guerra, bem como a sua possível qualificação como guerra santa denotam perfeitamente quão macabro é o ser humano. Pois, o que é a guerra além da exacerbação de toda a selvageria? Selvageria esta que o homem, novamente mais hipócrita que ingênuo, tenta até mesmo regular minimamente por uma série de normas de guerra, desprezando o fato de que a bestialidade em si não comporta qualquer limite ou regra.
Agora, instala-se a celeuma, pois o Paraguai, que até hoje não se recuperou da destruição ocasionada por “aquela” guerra, pede a devolução do canhão outrora capturado, bem como de outros troféus ou arquivos de guerra. E, eis que dentre as opiniões de estudiosos e historiadores, alguém diz que “Nenhum país devolve seus troféus de guerra. Foi o sangue dos brasileiros que o cimentou no solo…”.
Bem, se nenhum país devolve os seus troféus de guerra, e daí? Porque não inauguramos esta bela tradição? Daqui pra frente todos os países devolverão tudo o que arrancaram à força dos seus inimigos derrotados na guerra, abraçando-se e perdoando-se mutuamente pelas atrocidades cometidas. Idéia de louco? O que Cristo acharia dela? Acerca do sangue dos brasileiros, tenho certeza de que eles não lutaram pela conquista de um canhão. Muitos inclusive morreram sem saber exatamente pelo que lutavam, como, aliás, acontece até hoje em todas as guerras. Atentado à história? Não creio que o canhão ou qualquer troféu precise estar fisicamente aqui para que a história permaneça viva. História se faz, sobretudo, de bons livros e de bons historiadores.
Se o Paraguai quer de volta El Cristiano, devolvamos então a relíquia. Melhor ainda seria que ela fosse novamente derretida para fazer sonoros sinos de igrejas. Convertida novamente naquilo que nunca deveria ter deixado de ser. Aproximando-se um pouco mais de algo cristão. Espalhando com as suas badaladas mensagens de paz e concórdia entre os povos, jamais de guerra. Afinal de contas, não há absolutamente nada para se orgulhar em uma guerra, pois no fim da guerra, como sabiamente diz Humberto Guessinger, todos perdem.
Edizio Mendonça, quando publicar seu livro nos avise, por gentileza. Eu particularmente tenho interesse em ler.
ATT
HENDERSON Guimaraes
Boa noite, sou sobrinha neta do Adolfo Alves Barreto e eu queria muito muito ter acesso a dados dele. Se vocês pudessem me encaminhar, o livro que ele publicou ou artigos, fotos ficaria agradecida. Tudo que tiverem. Aguardo respostas, obrigada.
Inicialmente quero parabenizar pelo lindo e importante site. Sou historiador. Estou escrevendo um livro sobre os coronéis da nossa região. Devido isso, solicito de vcs ou de quem puder me fornecer, os dados biográficos do Cel. Adolfo Alves Barreto, bem foto do mesmo. Antecipo os meus agradecimentos.
Edizio Mendonça
“Nós que em outro tempo nos matávamos agora recusamos fazer guerra contra nossos inimigos.” Justino Mártir (160 d.C.)
Os primeiros cristãos não participavam na guerra pelo fato de que a igreja primitiva seguia os mandamentos de Cristo de jeito literal.
http://www.aigrejaprimitiva.com/dicionario/GUERRA.html
Parabéns ao Dr. Lucas Parenta pelo seu profundo artigo sob referência.