A origem de Mundo Novo está intimamente ligada a um contexto de crise econômica provocada pela grande seca que assolou as Províncias(1)  na região nordeste do Brasil em meados do século XIX(2) , pois é senso comum que Mundo Novo foi fundada pela tropa de boiadeiros liderada pelo Sr. José Carlos da Mota em 1833.
A mim sempre pareceu estranho as justificativas que punham o caminho das tropas de José Carlos da Mota em direção ao Sertão baiano, fugindo dos efeitos da seca que nos anos 1830, devastou a Bahia; sempre me perguntei como poderia alguém procurar pastagens e água para os rebanhos de gado, seguindo uma direção contrária à da abundância, que era o Litoral, uma vez que o saíram da região de Alagoinhas, mais próxima do rico Recôncavo baiano em direção ao Sertão?(3)

Em busca de respostas a esse possível contra-senso, encontrei nos trabalhos do geógrafo Milton Santos(4)  uma explicação formal para compreender o conhecimento que o sertanejo desenvolve na lida com o gado cotidianamente, cheguei a conclusão que a explicação está no Sal.

Mas como assim “O Sal”? Segundo Santos, os criadores de gado reconhecem que o sal mineral sempre foi uma importante fonte de nutrientes para o gado, e a experiência tornou possível a percepção de que, muito embora a região do Recôncavo/litoral tenha uma distribuição de chuvas muito maior que o sertão, bem como uma vegetação mais portentosa, as plantas litorâneas que poderiam servir de alimento para o gado são pobres em nutrientes essenciais, ainda que ricas em água. A vegetação sertaneja, mais rarefeita e pobre em água, é mais rica em nutrientes, inclusive o sal, mais presente no solo do sertão, portanto, mais nutritiva para a alimentação dos rebanhos, isso certamente influenciou o deslocamento de José Carlos da Mota para as paragens de Mundo Novo para enfrentar a estiagem prolongada.

Portanto, Mundo Novo tem na pecuária bovina, a origem da sua história no contexto social e político da Bahia; partindo dessa constatação, proponho que possamos aos poucos compreender a dinâmica na formação de nossa cidade, trazendo sempre de sua história, muitas características que ainda são marcantes no modo de ser do povo mundonovense.

Rodrigo Lopes
Graduado em História pela Uneb.
Especialista em História Social e Educação pela UCSal.
Mestrando em História Social pela UFBA.

(1)Províncias eram a denominação política dos atuais Estados da federação na época do Império brasileiro.
(2)GONÇALVES, Graciela Rodrigues. AS SECAS NA BAHIA DO SÉCULO XIX. Programa de Mestrado em Ciências
Sociais da UFBA
(3)LIMA, Dante de. Mundo Novo: nossa terra, nossa gente. Salvador, Contemp Editora Ltda, 1988.
(4)SANTOS, Milton. Zonas deprimidas… zonas pioneiras. In: Revista Brasileira dos Municípios. IBGE (Rio) 53/54.