Por Gustavo Chaves,

Existem em Mundo Novo dois problemas fundamentais (e aqui vocês devem perdoar a introdução dura, sem malabarismos estéticos, a situação não está para isso) quando nos referimos à forma institucionalizada de se fazer política, através da prefeitura e câmara de vereadores, detalharemos-nos abaixo.

A atitude dos vereadores  em suas ofensas recíprocas é lastimável, e quando nos referimos ao termo “recíprocas” deixamos claro que vem dos dois lados e não de um só como querem fazer crer faixas pseudo-populares apregadas na praça central. Devemos esclarecer que todos os lados na contenda são machistas, e o são por que somos todos, ainda mais numa cidade pequena, então deixe claro: Na discussão são machistas tanto os homens quanto as mulheres.

O presente artigo não pretende nada ensinar acerca do feminisno, não é o objeto de análise, nem temos competência para isso. O que queremos deixar claro é que os dois lados se ofendem a todo momento, sejam quais forem as ofensas proferidas, ambos estão viciados no equivocado revanchismo que nos permeia, nos rebaixa e empobrece qualquer debate.

O segundo problema está na reação da população, que participa como fantoches dessas mesquinharias pessoais que se avolumam em nossa câmara de vereadores, mas nesse ponto talvez seja apenas uma manifestação daquela sociedade do espetáculo, na qual estamos imersos segundo o filósofo francês Guy Debord. Outra deveria ter sido a postura da população desde quando começaram os ataques.

Fazendo a leitura dos acontecimentos a partir d’alguma ciência política clássica, é preciso lembrar que os que estão na câmara de vereadores são PARES, um tão diplomado quanto outro, um tão representante de uma aspiração popular quanto outro, e portanto por nenhum motivo um pode se posicionar em postura superior a qualquer outro, tampouco um pode usar “xingamentos” de qualquer espécie contra outro.

Há evidente má-vontade de ambas as partes (oposição e situação) em manter um debate sério  –  se ofendendo apenas em termos de idéias e aspirações – e por continuidade manter um nível razoável de amizade, não das intimas, mas daquela que permita o diálogo interno e não a guerra tranformando opiniões divergentes em uma crescente onda de inimizade.

Isso tudo ainda está no plano do segundo problema, pois curiosamente a reação infantil e tola da população no dia em que houve um confusão generalizada na câmara de vereadores, é apenas um reflexo (e não deveria ser) da forma como a política tem sido conduzida. Agora a população deve ter a maturidade de repudiar tais atos e, estando de qualquer lado, reconhecer que temos a pior legislatura dos últimos 16 anos (pois a memória só nos permite regredir até aí) ou talvez dada a experiência de uma outra opinião, talvez tenhamos a pior câmara de vereadores dos últimos 50 anos.

Por outro lado precisamos nos culpar, sim temos culpa e a culpa NÃO está no voto. Toda análise negativa que fazemos da política institucional traz também consequências negativas para o próprio analista, pois nada propõe, só descredencia.

Se é verdade, como se tem dito que estamos  “no fundo do poço” ou “em cinzas” e se é verdade, como disse Gildásio Alves, que estamos prestes a renascer:  temos de buscar uma nova construção e não nos referimos à reconstrução político-institucional, mas uma construção menor, daquelas que começam numa conversa, seguem em um artigo e têm a potência transformadora  de que nos disse, nos idos do século XIX, o francês Gabriel Tarde.

O grande problema da maior parte das críticas que vimos é que são saudosistas, falam de um tempo que NUNCA tivemos, se um dia tivemos grande prestígio na agropecuária foi ao custo de milhares de trabalhadores que se escravizavam por um parco salário pago pelos coronéis que controlovam a região. Se outro dia tivemos uma câmara de vereadores mais educada e com mais compostura, ainda assim nada faziam senão pelos seus interesses, qualquer educação era fruto da sua educação burguesa, o que devemos repudiar.

Este momento não é de recomeço, mas de criação, e para criar não precisamos de políticos, de partidos, de prefeitura ou de câmara de vereadores, não precisamos sequer tomar esse “poder”, pois o que podemos não está apenas no voto, está no ato, na vontade de criar, na vontade de fazer, no desejo de mudar, é disso que precisamos no momento.

Chegou a hora de pararmos para pensar, o novo não está na “gente nova”, “gente jovem”, o novo está na nossa criação do novo, em pequenos atos, pequenos gestos podemos criar uma outra situação, uma situação singular e podemos criar o novo, fazer poder sem tomá-lo, é possível.